meu plano era simples: eu iria me enfurnar debaixo de muitos e muitos lençóis e cobertores, longe das perdas de tempo em planos e planos que todos passavam repetindo, eu iria me erguer muros contra tudo; meu quarto, minha cidade, minha vida isolada: eu não queria mais sair eu queria era escrever a vida inteira, só passaria lendo e escrevendo, lendo não tanto, ouvindo música clássica, vendo imagens de quadros bonitos; me alimentar da mais alta arte enfurnado no topo da minha torre longe de tudo e todos, eu não queria mais viver;
indassim eu para mim escrever era a vida! eu tinha que achar a vida onde estava a vida? e a vida nunca estava, eu procurava e comia vida o dia inteiro mas não havia vida. minhas mãos só largavam vazio, vazio por todos os cantos, era palpável; mas eu saía na rua e as pessoas me cruzavam ocas, todas reclamando e fazendo planos, nunca olhavam para seus pés e pisavam nos bueiros e nas poças de lama suja, eu as via todas olhando para cima, olhando para os prédios e as pessoas distantes; sempre que eu via alguém olhar para cima eu achava que era um suicídio, que havia alguém indo se jogar; mas nunca era nada, era sempre só uma recusa em nojo, um desprezo pelos pés e pela camisa suja de sorvete e chocolate, as pessoas só andavam nas ruas olhando para os lados e para cima e nunca para baixo;